Às vezes medito - Fernando Pessoa.



Às vezes medito,
Às vezes medito, e medito mais fundo, e ainda mais fundo
E todo o mistério das coisas aparece-me como um óleo à superfície,
E todo o universo é um mar de caras de olhos fechados para mim. 
Cada coisa — um candeeiro de esquina, uma pedra, uma árvore, 
E um olhar que me fita de um abismo incompreensível, 
E desfilam no meu coração os deuses todos, e as ideias dos deuses. 

Ah, haver coisas! 
Ah, haver seres! 
Ah, haver maneira de haver seres 
De haver haver, 
De haver como haver haver, 
De haver... 
Ah, o existir o fenômeno abstracto — existir, 
Haver consciência e realidade, 
O que quer que isto seja... 
Como posso eu exprimir o horror que tudo isto me causa? 
Como posso eu dizer como é isto para se sentir? 
Qual é alma de haver ser? 

Ah, o pavoroso mistério de existir a mais pequena coisa 
Porque é o pavoroso mistério de haver qualquer coisa 
Porque é o pavoroso mistério de haver... 

Álvaro de Campos - Heterônimo de Fernando Pessoa.

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