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Mostrando postagens de outubro, 2015

Silogismos da amargura - Cioran.

Suficientemente ingênuo para colocar-me em busca da Verdade, interessei-me no passado — inutilmente — por muitas disciplinas. Começava a firmar-me no ceticismo quando tive a idéia de consultar, como último recurso, a Poesia: quem sabe, disse a mim mesmo, talvez me seja útil, talvez esconda sob sua arbitrariedade alguma revelação definitiva. Recurso ilusório: ela me fez perder até minhas incertezas… Cioran, In: Silogismos da amargura.

Escrever é como soprar um machucado ardido.

Escrever é como soprar um machucado ardido. Você sabe que ele está ali, más já dá para seguir em frente.

Esquece o futuro - Montaigne.

“Esquece o futuro… ele não te pertence! O presente te basta! Mas é preciso ser rápido, quando ele é mau presente E andar devagar quando se trata de saboreá-lo Expressões como: “passar o tempo” espelham bem a maneira de viver dessa gente prudente…. que imagina não haver coisa melhor pra fazer da vida. Deixam passar o presente, esquivam-se, ignoram o presente… Como se estar vivo fosse uma coisa desprezível… Porque a natureza nos deu a vida em condições tão favoráveis… que só mesmo por nossa culpa ela poderia se tornar pesada e inútil”. Montaigne.

Morreste-me - José Luís Peixoto.

Pai. Nunca envelheceste, e eu queria ver-te velho, velhinho aqui no nosso quintal, a regar as árvores, a regar as flores. Sinto tanta falta das tuas palavras. Orienta-te, rapaz. Sim. Eu oriento-me, pai. E fico. Estou. O entardecer, em vagas de luz, espraia-se na terra que te acolheu e conserva. Chora chove brilho alvura sobre mim. E oiço o eco da tua voz, da tua voz que nunca mais poderei ouvir. A tua voz calada para sempre. E, como se adormecesses, vejo-te fechar as pálpebras sobre os olhos que nunca mais abrirás. Os teus olhos fechados para sempre. E, de uma vez, deixas de respirar. Para sempre. Para nunca mais. Pai. Tudo o que te sobreviveu me agride. Pai. Nunca esquecerei. José Luís Peixoto.

Os Sete Enforcados - Leônidas Andreiev.

Se nas coisas cruéis pode haver nobreza, havia nobreza, certamente, naquele silêncio profundo e solene em que todo sopro se desvanecia.  Naquele austero silêncio, atravessado pela desolada vibração das horas que passavam, homens e mulheres separados do mundo, esperavam a noite, a manhã e o suplício, e cada um daqueles seres se preparava para a morte, a seu modo. Leônidas Andreiev.

Na hora de pôr a mesa, éramos cinco - José Luís Peixoto.

Na hora de pôr a mesa, éramos cinco... na hora de pôr a mesa, éramos cinco: o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs e eu. depois, a minha irmã mais velha  casou-se. depois, a minha irmã mais nova  casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,  na hora de pôr a mesa, somos cinco,  menos a minha irmã mais velha que está  na casa dela, menos a minha irmã mais  nova que está na casa dela, menos o meu  pai, menos a minha mãe viúva. cada um  deles é um lugar vazio nesta mesa onde  como sozinho. mas irão estar sempre aqui.  na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.  enquanto um de nós estiver vivo, seremos  sempre cinco.  José Luís Peixoto.

É preciso estar sempre ébrio. De vinho, de poesia ou de virtude - Charles Baudelaire.

"É preciso estar sempre ébrio. É tudo: eis a única questão. Para não sentir o terrível fardo do tempo que vos abate e vos inclina para a terra, tendes de embriagar-vos sem tréguas. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos. E se porventura, nas escadas do palácio, na relva verde de uma vala, na solidão morna do vosso quarto, despertardes a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que se esvai, a tudo o que geme, a tudo o que passa, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio responder-vos-ão: está na hora de se embriagarem! Para que não se tornem escravos martirizados do tempo, embriagai-vos. Embriagai-vos incessantemente! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha." Charles Baudelaire.

Primeiro amor - Ivan Turguêniev.

Ah juventude! Juventude! Você parece não ligar para nada, parece possuir todos os tesouros do universo, até a tristeza lhe traz contentamento, até o desgosto lhe cai bem, você é confiante e ousada, você diz: Só eu vivo – cuidado! Mas também para você os dias correm e somem, sem conta e sem deixar vestígio, e tudo em você desaparece, como a cera sob o sol, como a neve... E talvez todo o segredo de seu encanto consista não na possibilidade de pensar que você fará tudo – consista justamente em que você solte aos ventos forças que não saberia empregar de outro modo –consista em que cada um de nós se considere a sério um perdulário, e acredite a sério que tem o direito de dizer: "Ah, quanta coisa eu faria se não tivesse desperdiçado meu tempo!". (...) Quantas esperanças eu tinha (...) Mas, de tudo aquilo que eu esperava, o que se realizou? E agora, quando em minha vida já começam a baixar as sombras do entardecer, o que me restou de mais fresco, de mais caro, do que as lemb

O canteiro de mármore - Hermann Hesse.

A primeira estrela não tardaria a surgir em prenúncio de noite próxima. A conversa com Becker dera um pontapé em meu orgulho de pensador perspicaz. E como fazia uma noite muito bonita e já havia um vazio no meu amor-próprio, apossou-se repentinamente de mim uma paixão pela filha do marmorista. O que senti naquele instante fez-me concluir que não se podia brincar com paixões. Comi as últimas cerejas que ainda tinha comigo e quando as estrelas já tinham saído, quando na rua se ouviam os descantes, na voz de algumas moças sentimentais, larguei o chapéu e minha sabedoria no banco e encaminhei-me, apressado, para os campos escurecidos. Preso de uma incrível emoção, abrandei o passo e deixei correr as lágrimas livremente. Mas, através da névoa que embaciava meus olhos, entrevia os espaços abertos que a noite estival preenchera de sombras quietas, as terras lavradas desdobravam-se até aos horizontes como uma sucessão de ondas suaves desfazendo-se na muralha transparente do céu; de um l

A beleza de toda a literatura - F. Scott Fitzgerald.

Isso é parte da beleza de toda a literatura. Você descobre que os seus anseios são os mesmos de todos, que você não está sozinho e isolado de ninguém. Você pertence. F. Scott Fitzgerald.

O Desinteressante Das Desimportâncias - André Anacoreta.

"O sentimento da poesia é um sentimento de espanto, de assombro diante das contradições inerentes à vida. O poeta no seu ato de poetizar, seja lá o que for, é como um gato que fica a espreita observando de longe. Os olhos de um poeta são olhos vibrantes, alucinados; estão sempre atentos aguardando uma mensagem visual, um momento de prender o presente e transformá-lo em arte." André Anacoreta in O Desinteressante Das Desimportâncias.

Sou homem: duro pouco - Octavio Paz.

Sou homem: duro pouco e é enorme a noite. Mas olho para cima: as estrelas escrevem.  Sem entender compreendo:  Também sou escritura  e neste mesmo instante  alguém me soletra.  Octavio Paz.

A finitude passeia entre nós - Padre Fabio de Melo.

"A finitude passeia entre nós. Ceifa-nos em pequenas medidas, leva-nos pelas mãos.  Viver é isso.  Despedida sem alardes."  Padre Fabio de Melo.