Postagens

Mostrando postagens de junho, 2015

Nesta vida, pode-se aprender três coisas de uma criança - Paulo Leminski.

Nesta vida, pode-se aprender três coisas de uma criança; estar sempre alegre, nunca ficar inativo, e chorar com força por tudo que se quer. Paulo Leminski. 

Certezas o vento leva - Paulo Leminski.

Certezas o vento leva. Só dúvidas continuam de pé. Paulo Leminski.

Quando eu tiver setenta anos - Paulo Leminski.

Quando eu tiver setenta anos então vai acabar esta minha adolescência vou largar da vida louca e terminar minha livre docência  vou fazer o que meu pai quer  começar a vida com passo perfeito  vou fazer o que minha mãe deseja  aproveitar as oportunidades  de virar um pilar da sociedade  e terminar meu curso de direito  então ver tudo em sã consciência  quando acabar esta adolescência.  Paulo Leminski.

Os nossos olhos - Paulo Leminski.

Os nossos olhos Fazem amor, E nós ainda  Nem nos tocamos.  Paulo Leminski.

Hexagrama 65 - Paulo Leminski.

Hexagrama 65 Nenhuma dor pelo dano.  Todo dano é bendito.  Do ano mais maligno,  nasce o dia mais bonito.  1 dia,  1 mês,  1 ano.  Paulo Leminski.

Profissão de febre - Paulo Leminski.

Profissão de febre Quando chove, eu chovo,  faz sol,  eu faço,  de noite,  anoiteço,  tem deus,  eu rezo,  não tem,  esqueço,  chove de novo,  de novo, chovo,  assobio no vento,  daqui me vejo,  lá vou eu,  gesto no movimento  Paulo Leminski.

Meu verso, temo, vem do berço - Paulo Leminski.

Meu verso, temo, vem do berço. Não versejo porque eu quero, versejo quando converso e converso por conversar.  Pra que sirvo senão pra isto,  pra ser vinte e pra ser visto,  pra ser versa e pra ser vice,  pra ser a super-superfície,  onde o verbo vem ser mais?  Não sirvo pra observar.  Verso, persevero e conservo  um susto de quem se perde  no exato lugar onde está.  Onde estará meu verso?  Em algum lugar de um lugar,  onde o avesso do inverso  começa a ver e ficar.  Por mais prosas que eu perverta,  Não permita Deus que eu perca  meu jeito de versejar.  Paulo Leminski.

Despropósito geral - Paulo Leminski.

Despropósito geral Esse estranho hábito, escrever obras-primas, não me veio rápido.  Custou-me rimas.  Umas, paguei caro,  liras, vidas, preços máximos.  Umas, foi fácil.  Outras, nem falo.  Me lembro duma  que desfiz a socos.  Duas, em suma.  Bati mais um pouco.  Esse estranho abuso,  adquiri, faz séculos.  Aos outros, as músicas.  Eu, senhor, sou todo ecos.  Paulo Leminski.

Andar e pensar um pouco - Paulo Leminski.

Andar e pensar um pouco, que só sei pensar andando. Três passos, e minhas pernas já estão pensando. Aonde vão dar estes passos? Acima, abaixo? Além? ou acaso Se desfazem ao mínimo vento sem deixar nenhum traço? Paulo Leminski.

Desencontrários - Paulo Leminski.

Desencontrários Mandei a palavra rimar, ela não me obedeceu. Falou em mar, em céu, em rosa,  em grego, em silêncio, em prosa.  Parecia fora de si,  a sílaba silenciosa.  Mandei a frase sonhar,  e ela se foi num labirinto.  Fazer Poesia, eu sinto, apenas isso.  Dar ordens a um exército,  para conquistar um império extinto.  Paulo Leminski.

Ai daqueles... - Paulo Leminski.

Ai daqueles que se amaram sem nenhuma briga aqueles que deixaram que a mágoa nova virasse a chaga antiga Ai daqueles que se amaram sem saber que amar é pão feito em casa e que a pedra só não voa  porque não quer não porque não tem asa Paulo Leminski.

Razão de ser - Paulo Leminski.

Razão de ser Escrevo. E pronto. Escrevo porque preciso, preciso porque estou tonto.  Ninguém tem nada com isso.  Escrevo porque amanhece,  E as estrelas lá no céu  Lembram letras no papel,  Quando o poema me anoitece.  A aranha tece teias.  O peixe beija e morde o que vê.  Eu escrevo apenas.  Tem que ter por quê?  Paulo Leminski.

Invernáculo - Paulo Leminski.

Invernáculo Esta língua não é minha, qualquer um percebe.  Quem sabe maldigo mentiras,  vai ver que só minto verdades.  Assim me falo, eu, mínima,  quem sabe, eu sinto, mal sabe.  Esta não é minha língua.  A língua que eu falo trava  uma canção longínqua,  a voz, além, nem palavra.  O dialeto que se usa  à margem esquerda da frase,  eis a fala que me lusa,  eu, meio, eu dentro, eu, quase.  Paulo Leminski.

Sem título - Paulo Leminski.

Sem título Eu tão isósceles Você ângulo Hipóteses  Sobre o meu tesão  Teses sínteses  Antíteses  Vê bem onde pises  Pode ser meu coração  Paulo Leminski.

A lua no cinema - Paulo Leminski.

A lua foi ao cinema, passava um filme engraçado, a história de uma estrela  que não tinha namorado.  Não tinha porque era apenas  uma estrela bem pequena,  dessas que, quando apagam,  ninguém vai dizer, que pena!  Era uma estrela sozinha,  ninguém olhava pra ela,  e toda a luz que ela tinha  cabia numa janela.  A lua ficou tão triste  com aquela história de amor  que até hoje a lua insiste:  — Amanheça, por favor!  Paulo Leminski.

Adminimistério - Paulo Leminski.

Adminimistério Quando o mistério chegar, já vai me encontrar dormindo, metade dando pro sábado,  outra metade, domingo.  Não haja som nem silêncio,  quando o mistério aumentar.  Silêncio é coisa sem senso,  não cesso de observar.  Mistério, algo que, penso,  mais tempo, menos lugar.  Quando o mistério voltar,  meu sono esteja tão solto,  nem haja susto no mundo  que possa me sustentar.  Meia-noite, livro aberto.  Mariposas e mosquitos  pousam no texto incerto.  Seria o branco da folha,  luz que parece objeto?  Quem sabe o cheiro do preto,  que cai ali como um resto?  Ou seria que os insetos  descobriram parentesco  com as letras do alfabeto?  Paulo Leminski.