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Mostrando postagens de maio, 2018

Balada do festival - Hilda Hilst.

Haste pensativa e débil da rosa que tenho na memória. Te pareces comigo na efêmera vontade de ser mais vida e menos morte. Só nos falta o amor. Grande. Sem mácula.  O poema infinito para mim, a eternidade para a tua rosa. Hilda Hilst.

Da morte odes mínimas - Hilda Hilst.

"O poeta não precisa passar pela morte ou por um montão de cadáveres para falar sobre ela. Você já tem um conhecimento da coisa, não precisa viver tudo para escrever." Te sei. Em vida  Provei teu gosto.  Perda, partidas  Memória, pó  Com a boca viva provei  Teu gosto, teu sumo grosso.  Em vida, morte, te sei.  Hilda Hilst.

Árias pequenas para bandolim - Hilda Hilst.

Antes que o mundo acabe, Túlio, Deita-te e prova Esse milagre do gosto Que se fez na minha boca Enquanto o mundo grita  Belicoso. E ao meu lado  Te fazes árabe, me faço israelita  E nos cobrimos de beijos  E de flores  Antes que o mundo se acabe  Antes que acabe em nós  Nosso desejo.  Hilda Hilst.

Se for possível, manda-me dizer - Hilda Hilst.

Se for possível, manda-me dizer: - É lua cheia. A casa está vazia - Manda-me dizer, e o paraíso Há de ficar mais perto, e mais recente  Me há de parecer teu rosto incerto.  Manda-me buscar se tens o dia  Tão longo como a noite. Se é verdade  Que sem mim só vês monotonia.  E se te lembras do brilho das marés  De alguns peixes rosados  Numas águas  E dos meus pés molhados, manda-me dizer:  - É lua nova -  E revestida de luz te volto a ver.  Hilda Hilst.

Quando terra e flores - Hilda Hilst.

Quando terra e flores eu sentir sobre o meu corpo, gostaria de ter ao meu lado tuas mãos. E depois, guardar meus olhos dentro delas. Hilda Hilst.

Não há silêncio bastante - Hilda Hilst.

Não há silêncio bastante Para o meu silêncio. Nas prisões e nos conventos Nas igrejas e na noite Não há silêncio bastante Para o meu silêncio. Os amantes no quarto. Os ratos no muro. A menina Nos longos corredores do colégio. Todos os cães perdidos Pelos quais tenho sofrido: O meu silêncio é maior Que toda solidão E que todo o silêncio. Hilda Hilst.

Quero brincar, meus amigos... De ver beleza nas coisas - Hilda Hilst.

"Quero brincar, meus amigos... De ver beleza nas coisas." Hilda Hilst.

Nós, poetas e amantes o que sabemos do amor? - Hilda Hilst.

Nós, poetas e amantes o que sabemos do amor? Temos o espanto na retina diante da morte e da beleza.  Somos humanos e frágeis  mas antes de tudo, sós.  Somos inimigos.  Inimigos com muralhas  de sombra sobre os ombros.  E sonhamos. Às vezes  damos as mãos àqueles  que estão chorando.  (os que nunca choraram por nós)  Ah, meus irmãos e irmãs...  Ai daqueles que nos amam  e que por amor de nós se perdem.  Ah, pudéssemos amar um homem  ou uma mulher ou uma coisa...  Mas diante de nós, o tempo  se consome, desaparece e não para.  Ouvi: que vossos olhos se inundem  de pranto e água de todo o mundo!  Somos humanos e frágeis  mas antes de tudo, sós.  Hilda Hilst.

Presságio VI - Hilda Hilst.

“Deitamos a semente/ E ficamos à espera de um verão” Os pássaros também pousam com frequência nos versos, com suas asas que nem sempre simbolizam a liberdade: há asas de fogo, de espanto, mas há também asas de ferro, asas arrancadas. Há, sobretudo, a vontade urgente de ser lida, compreendida, olhada outra vez: “Me fizeram de pedra/ quando eu queria/ ser feita de amor”. Presságio VI  Água esparramada em cristal,  buraco de concha,  segredarei em teus ouvidos  os meus tormentos.  Apareceu qualquer cousa  em minha vida toda cinza,  embaçada, como água  esparramada em cristal.  Ritmo colorido  dos meus dias de espera,  duas, três, quatro horas,  e os teus ouvidos  eram buracos de concha,  retorcidos  no desespero de não querer ouvir.  Me fizeram de pedra  quando eu queria  ser feita de amor.  Hilda Hilst.