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Mostrando postagens de abril, 2017

Tudo passa - Florbela Espanca.

"Não há dores eternas, e é da nossa miserável condição não poder deter nada que o tempo leva, que o tempo destrói: nem as dores mais nobres, nem as maiores." Florbela Espanca.

São mortos os que nunca acreditaram - Florbela Espanca.

São mortos os que nunca acreditaram  Que esta vida é somente uma passagem,  Um atalho sombrio, uma paisagem  Onde os nossos sentidos se poisaram.  São mortos os que nunca alevantaram  Dentre escombros a Torre de Menagem  Dos seus sonhos de orgulho e de coragem,  E os que não riram e os que não choraram.  Que Deus faça de mim, quando eu morrer,  Quando eu partir para o País da Luz,  A sombra calma dum entardecer,  Tombando, em doces pregas de mortalha,  Sobre o teu corpo heróico, posto em cruz,  Na solidão dum campo de batalha!  Florbela Espanca.

Se gostas de mim - Florbela Espanca.

"Se gostas de mim terás que sofrer com os meus pobres nervos de sensitiva em que as mãos mais delicadas não podem tocar sem fazer estremecer. Sou duma sensibilidade excessiva, aguda, profundíssima."  Florbela Espanca.

Mentiras - Florbela Espanca.

Mentiras Tu julgas que eu não sei que tu me mentes Quando o teu doce olhar poisa no meu? Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?  Qual a imagem que alberga o peito teu?  Ai, se o sei, meu amor! Eu bem distingo  O bom sonho da feroz realidade...  Não palpita d'amor, um coração  Que anda vogando em ondas de saudade!  Embora mintas bem, não te acredito;  Perpassa nos teus olhos desleais,  O gelo do teu peito de granito...  Mas finjo-me enganada, meu encanto,  Que um engano feliz vale bem mais  Que um desengano que nos custa tanto!  Florbela Espanca.

Os meus Versos - Florbela Espanca.

Os meus Versos Rasga esses versos que eu te fiz, Amor! Deita-os ao nada, ao pó ao esquecimento, Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,  Que a tempestade os leve aonde for!  Rasga-os na mente, se os souberes de cor,  Que volte ao nada o nada dum momento.  Julguei-me grande pelo sentimento,  E pelo orgulho ainda sou maior!...  Tanto verso já disse o que eu sonhei!  Tantos penaram já o que eu penei!  Asas que passam, todo o mundo as sente...  Rasga os meus versos... Pobre endoidecida!  Como se um grande amor cá nesta vida  Não fosse o mesmo amor de toda a gente!...  Florbela Espanca.

Ser poeta - Florbela Espanca.

Ser poeta Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja  Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!  É ter de mil desejos o esplendor  E não saber sequer que se deseja!  É ter cá dentro um astro que flameja,  É ter garras e asas de condor!  É ter fome, é ter sede de Infinito!  Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...  É condensar o mundo num só grito!  E é amar-te, assim, perdidamente...  É seres alma, e sangue, e vida em mim  E dizê-lo cantando a toda a gente!  Florbela Espanca.