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Mostrando postagens de novembro, 2015

O teu riso - Pablo Neruda.

O teu riso Tira-me o pão, se quiseres, tira-me o ar, mas não me tires o teu riso. Não me tires a rosa, a lança que desfolhas, a água que de súbito brota da tua alegria, a repentina onda de prata que em ti nasce. A minha luta é dura e regresso com os olhos cansados às vezes por ver que a terra não muda, mas ao entrar teu riso sobe ao céu a procurar-me e abre-me todas as portas da vida. Meu amor, nos momentos mais escuros solta o teu riso e se de súbito vires que o meu sangue mancha as pedras da rua, ri, porque o teu riso será para as minhas mãos como uma espada fresca. À beira do mar, no outono, teu riso deve erguer sua cascata de espuma, e na primavera, amor, quero teu riso como a flor que esperava, a flor azul, a rosa da minha pátria sonora. Ri-te da noite, do dia, da lua, ri-te das ruas tortas da ilha, ri-te deste grosseiro rapaz que te ama, mas quando abro os olhos e os fecho, quando

Ternura - David Mourão Ferreira.

Ternura Desvio dos teus ombros o lençol,  que é feito de ternura amarrotada,  da frescura que vem depois do sol,  quando depois do sol não vem mais nada...  Olho a roupa no chão: que tempestade!  Há restos de ternura pelo meio,  como vultos perdidos na cidade  onde uma tempestade sobreveio...  Começas a vestir-te, lentamente,  e é ternura também que vou vestindo,  para enfrentar lá fora aquela gente  que da nossa ternura anda sorrindo...  Mas ninguém sonha a pressa com que nós  a despimos assim que estamos sós!  David Mourão Ferreira.

Pensar em ti é coisa delicada - Antonio Gedeão.

Pensar em ti é coisa delicada.  É um diluir de tinta espessa e farta  e o passá-la em finíssima aguada  com um pincel de marta.  Um pesar grãos de nada em mínima balança,  um armar de arames cauteloso e atento,  um proteger a chama contra o vento,  pentear cabelinhos de criança.  Um desembaraçar de linhas de costura,  um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,  um planar de gaivota como um lábio a sorrir.  Penso em ti com tamanha ternura  como se fosses vidro ou película de loiça  que apenas com o pensar te pudesses partir.  Antonio Gedeão.

Poema de um Amor Divinizante - Professor Hermógenes.

Poema de um Amor Divinizante Somos um, embora dois. Assim como a flor e o perfume são, em essência, eles mesmos, a mesma coisa.  Numa única essência cristalina nos fundimos e me sinto sem forma, indefinidamente vivendo o Abstrato que traz em si o Substrato...do Imperecível, do Imortal, do Eterno, do Absoluto.  A divindade desse Amor que nos une também é sem forma, tal como Deus.  Assim, me sinto vivendo em Deus, sendo Deus, amando Deus.  Deus em mim é Deus em você !  Somos Deuses !!!  Eu O encontrei em você!  Que delícia !  Eu encontrei você!  Professor Hermógenes.