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Mostrando postagens de março, 2017

Nenhuma queda é em vão - Vinicius de Moraes.

Nenhuma queda é em vão, nenhuma dor o consome sem lhe ensinar algo; aceite as circunstância. Nada em sua vida acontece em vão, aceite a lição. Por trás de cada adversidade encontra-se um fragmento para a sua evolução. Vinicius de Moraes.

Poema Enjoadinho - Vinicius de Moraes.

Poema Enjoadinho Filhos... Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não os temos Como sabê-los? Se não os temos Que de consulta Quanto silêncio Como os queremos! Banho de mar Diz que é um porrete... Cônjuge voa Transpõe o espaço Engole água Fica salgada Se iodifica Depois, que boa Que morenaço Que a esposa fica! Resultado: filho. E então começa A aporrinhação: Cocô está branco Cocô está preto Bebe amoníaco Comeu botão. Filhos? Filhos Melhor não tê-los Noites de insônia Cãs prematuras Prantos convulsos Meu Deus, salvai-o! Filhos são o demo Melhor não tê-los... Mas se não os temos Como sabê-los? Como saber Que macieza Nos seus cabelos Que cheiro morno Na sua carne Que gosto doce Na sua boca! Chupam gilete Bebem xampu Ateiam fogo No quarteirão Porém, que coisa Que coisa louca Que coisa linda Que os filhos são! Vinicius de Moraes.

Soneto do amigo - Vinicius de Moraes.

Soneto do amigo Enfim, depois de tanto erro passado  Tantas retaliações, tanto perigo  Eis que ressurge noutro o velho amigo  Nunca perdido, sempre reencontrado. É bom sentá-lo novamente ao lado  Com olhos que contêm o olhar antigo  Sempre comigo um pouco atribulado  E como sempre singular comigo. Um bicho igual a mim, simples e humano  Sabendo se mover e comover  E a disfarçar com o meu próprio engano. O amigo: um ser que a vida não explica Que só se vai ao ver outro nascer E o espelho de minha alma multiplica... Vinicius de Moraes.

O Incriado - Vinicius de Moraes.

O Incriado Ai, muito andei e em vão... rios enganosos conduziram meu corpo a todas as idades  Na terra primeira ninguém conhecia o Senhor das bem-aventuranças...  Quando meu corpo precisou repousar eu repousei, quando minha boca ficou sedenta eu bebi  Quando meu ser pediu a carne eu dei-lhe a carne mas eu me senti mendigo. Vinicius de Moraes.

Anfiguri - Vinicius de Moraes.

Anfiguri Aquilo que eu ouso Não é o que quero Eu quero o repouso Do que não espero. Não quero o que tenho Pelo que custou Não sei de onde venho Sei para onde vou. Homem, sou a fera Poeta, sou um louco Amante, sou pai. Vida, quem me dera… Amor, dura pouco… Poesia, ai!… Vinicius de Moraes.

Ausência - Vinicius de Moraes.

Ausência Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado. Eu ficar

Tomara - Vinicius De Moraes.

"Tomara  Que a tristeza te convença Que a saudade não compensa E que a ausência não dá paz E o verdadeiro amor de quem se ama Tece a mesma antiga trama Que não se desfaz."  Vinicius De Moraes.

Como dizia o poeta - Vinicius de Moraes e Toquinho.

Como dizia o poeta Quem já passou  Por esta vida e não viveu  Pode ser mais, mas sabe menos do que eu  Porque a vida só se dá  Pra quem se deu  Pra quem amou, pra quem chorou  Pra quem sofreu, ai  Quem nunca curtiu uma paixão  Nunca vai ter nada, não  Não há mal pior  Do que a descrença  Mesmo o amor que não compensa  É melhor que a solidão  Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair  Pra que somar se a gente pode dividir?  Eu francamente já não quero nem saber  De quem não vai porque tem medo de sofrer  Ai de quem não rasga o coração  Esse não vai ter perdão  Vinicius de Moraes e Toquinho.

Soneto a quatro-mãos - Vinicius de Moraes.

Soneto a quatro-mãos Tudo de amor que existe em mim foi dado Tudo que fala em mim de amor foi dito Do nada em mim o amor fez o infinito Que por muito tornou-me escravizado.  Tão pródigo de amor fiquei coitado Tão fácil para amar fiquei proscrito Cada voto que fiz ergueu-se em grito Contra o meu próprio dar demasiado.  Tenho dado de amor mais que coubesse Nesse meu pobre coração humano Desse eterno amor meu antes não desse.  Pois se por tanto dar me fiz engano Melhor fora que desse e recebesse Para viver da vida o amor sem dano. Vinicius de Moraes.

Soneto do Corifeu - Vinicius de Moraes.

Soneto do Corifeu São demais os perigos desta vida Para quem tem paixão, principalmente Quando uma lua surge de repente E se deixa no céu, como esquecida. E se ao luar que atua desvairado Vem se unir uma música qualquer Aí então é preciso ter cuidado Porque deve andar perto uma mulher. Deve andar perto uma mulher que é feita De música, luar e sentimento E que a vida não quer, de tão perfeita. Uma mulher que é como a própria Lua: Tão linda que só espalha sofrimento Tão cheia de pudor que vive nua. Vinicius de Moraes.

Poética - Vinicius de Moraes.

Poética De manhã escureço De dia tardo De tarde anoiteço De noite ardo. A oeste a morte Contra quem vivo Do sul cativo O este é meu norte. Outros que contem Passo por passo: Eu morro ontem Nasço amanhã Ando onde há espaço: – Meu tempo é quando. Vinicius de Moraes.

Soneto de Devoção - Vinicius de Moraes.

Soneto de Devoção Essa mulher que se arremessa, fria E lúbrica aos meus braços, e nos seios Me arrebata e me beija e balbucia Versos, votos de amor e nomes feios. Essa mulher, flor de melancolia Que se ri dos meus pálidos receios A única entre todas a quem dei Os carinhos que nunca a outra daria. Essa mulher que a cada amor proclama A miséria e a grandeza de quem ama E guarda a marca dos meus dentes nela. Essa mulher é um mundo! — uma cadela Talvez… — mas na moldura de uma cama Nunca mulher nenhuma foi tão bela! Vinicius de Moraes.

Soneto de Separação - Vinicius de Moraes.

Soneto de Separação De repente do riso fez-se o pranto  Silencioso e branco como a bruma  E das bocas unidas fez-se a espuma  E das mãos espalmadas fez-se o espanto.  De repente da calma fez-se o vento  Que dos olhos desfez a última chama  E da paixão fez-se o pressentimento  E do momento imóvel fez-se o drama.  De repente, não mais que de repente  Fez-se de triste o que se fez amante  E de sozinho o que se fez contente.  Fez-se do amigo próximo o distante  Fez-se da vida uma aventura errante  De repente, não mais que de repente.  Vinicius de Moraes.

Soneto de Fidelidade - Vinicius de Moraes.

Soneto de Fidelidade De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto  Dele se encante mais meu pensamento  Quero vivê-lo em cada vão momento  E em seu louvor hei de espalhar meu canto  E rir meu riso e derramar meu pranto  Ao seu pesar ou seu contentamento  E assim quando mais tarde me procure  Quem sabe a morte, angústia de quem vive  Quem sabe a solidão, fim de quem ama  Eu possa me dizer do amor (que tive):  Que não seja imortal, posto que é chama  Mas que seja infinito enquanto dure.  Vinicius de Moraes.

Soneto do amor total - Vinicius de Moraes.

Soneto do amor total Amo-te tanto, meu amor... não cante O humano coração com mais verdade... Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade Amo-te afim, de um calmo amor prestante E te amo além, presente na saudade Amo-te, enfim, com grande liberdade Dentro da eternidade e a cada instante Amo-te como um bicho, simplesmente De um amor sem mistério e sem virtude Com um desejo maciço e permanente E de te amar assim, muito e amiúde É que um dia em teu corpo de repente Hei de morrer de amar mais do que pude. Vinicius de Moraes.

Soneto de Aniversário - Vinicius de Moraes.

Soneto de Aniversário Passem-se dias, horas, meses, anos Amadureçam as ilusões da vida Prossiga ela sempre dividida  Entre compensações e desenganos.  Faça-se a carne mais envilecida  Diminuam os bens, cresçam os danos  Vença o ideal de andar caminhos planos  Melhor que levar tudo de vencida.  Queira-se antes ventura que aventura  À medida que a têmpora embranquece  E fica tenra a fibra que era dura.  E eu te direi: amiga minha, esquece...  Que grande é este amor meu de criatura  Que vê envelhecer e não envelhece.  Vinicius de Moraes.